terça-feira, fevereiro 22, 2005

Ainda há uma esperança

Nesses tempos em que passam mais dúvidas pela minha cabeça do que certezas. Em que eu revejo a cada segundo a minha escolha, algo me deu alguma esperança.
O meu medo é que algum dia as páginas dos jornais tratem mais de um casamento luxuoso em um castelo, e que fique claro, um casamento de mentira, com sentimentos provavelmente vazios, do que das coisas que realmente interessam.
O meu medo é ver bunda demais nas capas. E é incrivel como essas mulheres dispostas a mostrar a bunda se proliferam. Parecem gremilins. Enquanto um imbecil tem o título de "homem mais poderoso do mundo" e destrói famílias, sonhos e anseios como quem escolhe o cardápio do almoço. "Hoje, deixa eu ver, quem merece morrer?..."
O meu medo é que as especulações sobre "quem come quem" e "quem trai quem" sejam maiores do que a procura por quem matou aquela freira. Sabe-se lá o que ela fez, e não é por ser freira que ela era santa, mas mataram ela. Puta vida. Mataram sem piedade.
Eu sempre olhei o lado lindo do jornalismo, sempre me esqueci de como a gente faz merda também. Hoje eu sei. É difícil admitir, mas eu sei. E tenho medo desse poder.
Pensei nesse monte de coisa, e em muitas outras que não consegui organizar plausivelmente pra expôr aqui, hoje.
Sentada. Lendo Caros Amigos.
Uma jornalista, a Natalia Viana, escreveu um texto maravilhoso sobre uma experiência que ela passou. Foi mais ou menos assim: ela se passou por desempregada durante um período. Fez tudo que uma pessoa desempregada precisa fazer, enfrentou a barra, foi em busca de um emprego digno e se deparou com coisas que pra gente, que tem comida na mesa, cama quente, enfim, dinheiro, é quase inimaginável. Trabalho escravo. Por merrecas.
Isso é jornalismo.
Pra quem quiser procurar, é a edição de janeiro de 2005. Só garanto uma coisa: lendo aquela matéria alguma coisa vai voltar a brilhar na mente de cada um. Brilhou uma chama de esperança dentro da minha, e olha que dessa vez eu não tava pegando fogo. E me deu aquele orgulho de dizer que eu faço jornalismo, e que algum dia alguém vai "me ler" e tudo vai mudar. Depois da Natalia Viana, alguma coisa mudou pra mim.

Um comentário:

Anônimo disse...

oi, menina...
como estás?
sinto saudades da tua risada...

menina
pesquise um pouco sobre new jornalism, isso deve te interessar.
é um tipo novo, já bem em prática lá fora, que traz o jornalista pra dentro da matéria.
não por ego, mas pela SUBJETIVIDADE. a visão de quem passou pelas coisas.
matérias contadas em primeira pessoa.
trazer o HUMANO de volta ao JORNALISMO.

BJS, Rodrigo.