Por ter começado a trabalhar em Zero Hora muito cedo, no terceiro semestre da faculdade, achei que já estivesse imune às piadas que tanto ouvi durante a faculdade. Aquelas típicas dos generalizadores que, por criticarem tudo sem critérios entre o bom e o ruim, têm uma crítica vazia. Pois descubro agora que o pior nem é trabalhar na RBS, mas ser jornalista mesmo.
É uma falência social. Ironicamente, claro. A mesma de que todos os advogados se queixam é ainda pior dentro da classe a que pertencem. Explico: o que mais escuto desde que comecei a minha especialização em Ciências Penais na PUCRS, cercada de mais de 30 bacharéis em Direito e instruída por outros deles, é que o povo - pobre entidade ignorante - acha que o Direito Penal é solução para tudo e que leis mais rígidas serviriam à diminuição da criminalidade.
É claro que eu - na teoria, uma não-ignorante - não acredito nisso. Acredito que a reformulação das leis até poderia ser feita e ajudar, de alguma forma, mas acompanhada de uma revolução social impossível de ser posta em prática. Sem mudanças sociais, nenhuma transformação na lei funciona de fato. Agora vejo que o algoz do Direito é a mídia. Na verdade, quase um bode expiatório. "A culpa da mídia" é a uma das frases mais pronunciadas entre os colegas. Talvez eles estejam brincando, talvez só repitam o que muito ouviram, fico na dúvida.
Mas quando os professores falam isso, a coisa muda de figura. Alguns posam em frente às classes e dizem palavras que só podem disseminar o preconceito, que sempre é ruim, e isso sim me preocupa. Me preocupa muito a soberba na qual os advogados são forjados. Nem consigo mais rir dos que usam terno e gravata para demonstrar sua seriedade, sem de fato precisar do traje - claro que há os que precisam, e as instituições que exigem isso, para mim, são dignas de piedade.
Esta soberba é capaz de fazer exatamente aquilo que eles mais criticam: enquanto o Direito Penal é bode expiatório da sociedade em crise, a mídia é o bode expiatório do Direto Penal decadente. É um jogo de empurra que considero bem fraco. E por considerar fraco, me preocupa que seja tão disseminado dentro das faculdades de Direito, de forma tão irresponsável. Na PUCRS, pela minha experiência de cinco meses, o é.
Nunca aprendi no meu curso de Comunicação da UFRGS que as leis são culpadas pelos crimes, bem pelo contrário. Sempre soube que a sociedade em crise e a falta de esperança eram os principais culpados pela violência. A sociedade puxa o gatilho na mão de um homem desesperado, sem querer parecer piegas. Da mesma forma que os advogados acham graça quando as pessoas pensam que a reformulação das leis pode salvar o Brasil, os jornalistas se divertem com os advogados que pensam que a reformulação da mídia pode salvá-los - ou a seus clientes.
O pior disso tudo é que um dos maiores desafios dos jornalistas é exatamente fazer a ponte entre as leis e a sociedade. Eles, os advogados ou legisladores, escrevem para eles, eles se entendem. A sociedade não os entende, e os jornalistas quebram a cabeça para que consigam entender. E sabe como é chamado todo esse esforço da mídia? Papo de jornalista.
Engraçado, não?
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Às vezes, gostaria de ser menos inquieta, mas não consigo e cansei de tentar. Agradeço hoje mais do que nunca por ter desistido da minha vaga no Direito da Furg para cursar Jornalismo na UFRGS, tão provocadora.
Há 13 anos
Um comentário:
Ótima crítica amiga! E ser inquieta é o que te torna uma jornalista cada vez melhor! Não perca isso nunca!
Bjos
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