terça-feira, agosto 12, 2008

Papo de jornalista

Por ter começado a trabalhar em Zero Hora muito cedo, no terceiro semestre da faculdade, achei que já estivesse imune às piadas que tanto ouvi durante a faculdade. Aquelas típicas dos generalizadores que, por criticarem tudo sem critérios entre o bom e o ruim, têm uma crítica vazia. Pois descubro agora que o pior nem é trabalhar na RBS, mas ser jornalista mesmo.

É uma falência social. Ironicamente, claro. A mesma de que todos os advogados se queixam é ainda pior dentro da classe a que pertencem. Explico: o que mais escuto desde que comecei a minha especialização em Ciências Penais na PUCRS, cercada de mais de 30 bacharéis em Direito e instruída por outros deles, é que o povo - pobre entidade ignorante - acha que o Direito Penal é solução para tudo e que leis mais rígidas serviriam à diminuição da criminalidade.

É claro que eu - na teoria, uma não-ignorante - não acredito nisso. Acredito que a reformulação das leis até poderia ser feita e ajudar, de alguma forma, mas acompanhada de uma revolução social impossível de ser posta em prática. Sem mudanças sociais, nenhuma transformação na lei funciona de fato. Agora vejo que o algoz do Direito é a mídia. Na verdade, quase um bode expiatório. "A culpa da mídia" é a uma das frases mais pronunciadas entre os colegas. Talvez eles estejam brincando, talvez só repitam o que muito ouviram, fico na dúvida.

Mas quando os professores falam isso, a coisa muda de figura. Alguns posam em frente às classes e dizem palavras que só podem disseminar o preconceito, que sempre é ruim, e isso sim me preocupa. Me preocupa muito a soberba na qual os advogados são forjados. Nem consigo mais rir dos que usam terno e gravata para demonstrar sua seriedade, sem de fato precisar do traje - claro que há os que precisam, e as instituições que exigem isso, para mim, são dignas de piedade.

Esta soberba é capaz de fazer exatamente aquilo que eles mais criticam: enquanto o Direito Penal é bode expiatório da sociedade em crise, a mídia é o bode expiatório do Direto Penal decadente. É um jogo de empurra que considero bem fraco. E por considerar fraco, me preocupa que seja tão disseminado dentro das faculdades de Direito, de forma tão irresponsável. Na PUCRS, pela minha experiência de cinco meses, o é.

Nunca aprendi no meu curso de Comunicação da UFRGS que as leis são culpadas pelos crimes, bem pelo contrário. Sempre soube que a sociedade em crise e a falta de esperança eram os principais culpados pela violência. A sociedade puxa o gatilho na mão de um homem desesperado, sem querer parecer piegas. Da mesma forma que os advogados acham graça quando as pessoas pensam que a reformulação das leis pode salvar o Brasil, os jornalistas se divertem com os advogados que pensam que a reformulação da mídia pode salvá-los - ou a seus clientes.

O pior disso tudo é que um dos maiores desafios dos jornalistas é exatamente fazer a ponte entre as leis e a sociedade. Eles, os advogados ou legisladores, escrevem para eles, eles se entendem. A sociedade não os entende, e os jornalistas quebram a cabeça para que consigam entender. E sabe como é chamado todo esse esforço da mídia? Papo de jornalista.

Engraçado, não?

--
Às vezes, gostaria de ser menos inquieta, mas não consigo e cansei de tentar. Agradeço hoje mais do que nunca por ter desistido da minha vaga no Direito da Furg para cursar Jornalismo na UFRGS, tão provocadora.

Um comentário:

Flávia Moraes disse...

Ótima crítica amiga! E ser inquieta é o que te torna uma jornalista cada vez melhor! Não perca isso nunca!
Bjos