domingo, janeiro 20, 2008

Eu e a Lara



Formatura da Lara - 19/01/2008

Eu pensei em contar a história por detrás desta foto. É uma longa história, porque essas lágrimas são cultivadas há mais de 10 anos. Somos melhores amigas no sentido mais piegas da expressão. Melhores amigas mesmo, assumidas. Dessas que na adolescência se mandavam cartas gigantescas e faziam juras de amor eterno. Dessas que não têm vergonha de dizer "eu te amo" ou "eu te odeio". Dessas, aliás, que ainda fazem juras de amor eterno.
No momento em que vi a Lara entrando com a toga e de faixa vermelha, rumo ao palco onde receberia seu diploma de bacharel em Direito, veio tudo à cabeça. Pensei no dia em que ela passou no vestibular e a sujamos toda. Pensei na primeira vez que tomei um porre de tequila, uma dose apenas que foi mais do que suficiente, e me escondi debaixo da cama, totalmente alcoolizada, fazendo ela me procurar pela casa inteira. Em quando dei o meu primeiro beijo e ela tava ali do lado, torcendo, espionando. Ou quando eu me formei, há alguns meses, e vê-la me fez chorar copiosamente. Ou na vez que ela teve uma grande decepção e desceu de um ônibus no meio da estrada, ao que desci correndo atrás. Lembrei dos momentos em que estou triste e, do nada, chega uma mensagem dela no meu celular, me fazendo lembrar de bons motivos para ser forte. Ou quando estava em crise, e ela me falava - ainda fala - poucas frases que esclareciam tudo. Ou quando ela sofria de amor e chorava no meu colo. Ou quando a gente ia para o Cassino no inverno e caminhava na praia, mesmo com o frio, fazendo planos de um dia morar na beira do mar e casar de pés descalços. Ou quando ela correu atrás de mim para o banheiro, em uma dessas festas, porque fugi aos prantos ao ver quem julgava ser o amor da minha vida de mãos dadas com outra. Ou quando a gente ficava vendo TV e comendo negrinho de tarde, sem fazer nada, em um silêncio que nem por um minuto foi desconfortável. Ou quando ela me dava o cobertor de lã de ovelha (eu sempre achava que eram penas) para dormir, no inverno, porque era mais quentinho. Ou quando queimamos a testa, juntas e no mesmo exato lugar, usando uma chapinha arcaica que minha mãe tinha, toda de ferro. Ou quando comprávamos um copo de Coca e um de vodka e bebíamos com um canudo de cada lado da boca. Ou quando ela brigou comigo porque não tinha dito "muito obrigada" a uma vendedora. Ou quando fomos parar no hospital depois de uma noite exagerada dela - e, por isso, minha mãe me deixou de castigo. Ou quando ela me deu um pijama de ursinho que tenho até hoje, no meu aniversário. Ou quando ela ia as minhas apresentações do coral e decorava as letras. Ou nas incontáveis horas que passávamos ao telefone, mesmo depois de um dia todo juntas.
Pensei nisso tudo. É isso, e muito mais, que representam as lágrimas da foto.

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