Era pequena (não sei ao certo a idade) quando ganhei o tal radinho da Gradiente. Era vermelho com detalhes em azul e amarelo. Tinha um microfone e os botões coloridos também. Eu adorava ele. Acho que eram os primórdios de um possível enclinamento para a vida jornalística. Adorava ele.
Nos dias de calor, na minha casa no Cassino a gente costumava montar aquelas piscinas de plástico. Daquelas bem toscas, azuis cheias de desenhos marinhos. Uma delas tinha uns 20 centímetros de altura, a outra uns 50. A gente sempre montava duas, por causa da diferença de idade entre eu e a minha irmã mais nova, com a nossa irmã mais velha. Cinco anos de diferença. Não era muito. Mas fazia a gente cobiçar a piscina "dos grandes", e fazia "os grandes" se sentirem o máximo.
Minha casa no Cassino tem um pátio grande, mas estreito. Assim, a gente montava as duas piscinas quase coladas uma na outra e deixava um corredor ínfimo. Os adultos tinham que passar de lado, não cabiam no corredor andando normalmente.
Certa tarde, estava eu com o meu radinho, na churrasqueira, que ficava alguns metros depois desse corredorzinho estreito. Criança cansa fácil dos brinquedos. Cansei de me gravar e resolvi entrar pra casa. Foi, então, que peguei o meu radinho colorido, aquele que já falei que adorava, e segui rumo à porta.
Parei na frente do corredorzinho. Quando tu és um desastre ambulante desde que te tornaste algo ambulante, te acostumas a não arriscar. Mas eram poucos passos. Levantei o radinho e segui firme. As bochechas vermelhas do sol. Aquele biquini cheio de babadinhos (que minha mãe achava que ficava lindo em mim).
Dei os dois primeiros passos com firmeza. Decidida. Mas a descoordenação foi mais forte. Deixei o meu adorado Gradiente cair na piscina. Comecei a chorar com todas as minhas forças infantis. Chorei alto. Meus pais foram ver o que era. Não me lembro ao certo quem tirou o meu radinho da piscina, mas escorria água dele. E dos meus olhos, ao mesmo tempo.
Meu pai abriu o radinho, secou ele, arrumou como pôde. Mas o radinho nunca mais foi o mesmo. E eu também nunca mais fui a mesma. Acho que foi a primeira vez que tomei consciência de que tinha estragado alguma coisa. A primeira vez que consegui discernir, na minha mente de poucos anos, que a culpa era minha.
Continuo desastrada. Sigo consciente.
Só queria uma chance de passar por aquelas piscinas novamente. Se a tivesse, chamava a minha mãe.