sábado, janeiro 07, 2006

O que faz um copy madrugadeiro

Vou tentar explicar minhas funções de copy madrugadeiro. Meu horário é das 2h às 8h da manhã e não fico na farra, não, fico solitária, dentro do prédio da Ipiranga, com apenas a telefonista no mesmo andar.
Viu, meninas? Não sou uma mulher da vida. Pobre de mim.
Defino minha função, superficialmente, em dois tópicos:

PROCURAR SANGUE
Fico ligando pra milhares de delegacias e postos da Polícia Rodoviária perguntando se coisas graves aconteceram. Por "coisa grave" entenda-se "morte". Mais de duas, se possível.

ACORDAR PESSOAS
Caso ocorram acidentes e/ou homicídios graves, com mais de duas vítimas ou em circunstâncias especiais, acordo o sobreaviso pra ele ir lá cobrir.
E acordo também o Marcos, que é o fotógrafo, pra ele ir fazer as fotos do ocorrido.

Mas tem outras coisas, também. Fico de olho na Globo e GloboNews, pra ver se acontece alguma coisa. Até agora não teve nenhum plantão. (Ah, eu tô na comunidade do Orkut "eu tenho medo do plantão da Globo".) Nos últimos dias, por exemplo, tenho esperado a morte do Sharon.
Também atendo às infinitas denúncias de leitores. Eles realmente acham que a imprensa pode resolver todos os problemas. E, de certa forma, resolve alguns.
Dias atrás uma mulher ligou avisando de um incêndio e dizendo que já tinha ligado pros Bombeiros, mas eles disseram que iam demorar por falta de carro. Uns dez minutos depois de eu ligar pros Bombeiros, dizendo que era da Zero Hora e perguntando por que nenhuma viatura tinha sido deslocada pra lá, três viaturas chegaram ao local.
É um medo de propaganda negativa que nem te conto.
Mas a vida de copy madrugadeiro é assim. Ligar pra lá e pra cá e ver se pessoas morreram e em que circunstâncias. Da última madruga saiu uma contracapa Zero Hora. Era a história do Cristiano Fischoder, 18 anos. Ele veio pra Porto Alegre comprar um violão com dinheiro economizado de seus prêmios de música e morreu na colisão do Escort dirigido pelo primo com uma árvore. Fiquei com medo de ligar pro fotógrafo, afinal, só tinha uma morte, não era nada grandioso (por favor, não me julguem fria, não sou, o que me atrapalha muito). Resolvi ligar pra chefe, que autorizou a ida. O carro tava todo destroçado, praticamente partido em dois.

É isso que faço.
Tirando os problemas com sono, é claro, trabalhar na madrugada é a melhor função que já tive no jornal.

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