quarta-feira, junho 22, 2005

Ameaçada

Há muito tempo não sentia tanto medo.
Uns três anos, pra ser mais específica. Eu subi num edifício e olhei lá pra baixo, do 15º andar, de uma parede toda de vidro. Por alguns segundos tive a certeza de que o vidro não existia. Como tenho acrofobia, senti um medo absurdo.
Ontem foi pior.
O Rafa me buscou na Fabico e a gente foi caminhando para minha casa. Só queria chegar lá rápido pra comer a picanha que meu pai me mandou. Tá, eu sei, é estranho receber um pedaço de picanha de presente, mas ele sabe que eu adoro churrasco e não pude ir pra Rio Grande. Bom, ele mandou, eu ia comer.
Então a gente seguiu caminhando pela Ramiro, dobrou na Ipiranga e esperou um pouquinho na parada com a Flávia. Quando o T1 chegou e ela subiu, a gente seguiu caminhando. Passamos pela sinaleira da Silva Só e foi aí que o Rafa notou que tinha um cara nos seguindo.
Seguimos pela Silva Só e dobramos na Felipe de Oliveira. E o cara se aproximando cada vez mais. Resolvemos entrar na Academia da Brigada Militar. Entramos. E o cara também! Entrou, foi até perto de onde a gente tava, olhou a quadra de futebol, olhou a gente um pouquinho, deu as costas e saiu.
Foi aí que notei que não era um cara, era um guri. Não muito baixo, mas magro. Com uma toca e uma jaqueta dessas de surf. Sabe-se lá o que tinha nos bolsos. Talvez um canivete, talvez uma faca, talvez uma arma carregada. Nem sei se quero saber.
A gente esperou um pouco e saiu também. Quando olhamos pela rua, ele estava seguindo pela Felipe de Oliveira e, quase na esquina, atravessou a rua. Atravessou perto de uns caminhões e se escondeu atrás deles. Eu já tava apavorada. Com os olhos arregalados. Muito suspeito o guri ficar nos esperando na esquina.
Resolvemos, então, seguir por outro caminho. Voltamos a Felipe de Oliveira, depois Silva Só e Ipiranga. fomos caminhando pela Ipiranga. Quando estávamos quase na esquina, eis que o guri surge, dobrando a esquina na nossa frente, mas não pro lado que a gente tava, pro outro. Seguiu caminhando de costas pra nós e desapareceu atrás de um muro. Aí, sim, tremi da cabeça aos pés.
Paramos e ligamos pra um táxi. Quatro reais não é nada perto de segurança. Ruim é sentir essa sensação de impotência. Horrível é não poder mais andar três quadras sem sentir medo. Pior ainda é saber que isso não tem solução.
Mas chegamos em casa bem, isso é o que importa, no fim, não é? E a picanha tava uma delícia.

Um comentário:

Raquel Hirai disse...

Da outra vez que tiveres de caminhar à noite, leva a picanha no bolso! Beijos, querida. Te cuida, hein?!