segunda-feira, julho 04, 2005

Metáforas

Verão, um dia em que nem tinha muito sol. Tomava banho de mar. De algum jeito - que eu já tentei explicar várias vezes e, acho, nunca fui bem sucedida - o mar me faz um bem danado. Cresci na beira do mar. Passava meus finais de semana e férias todos no Cassino. Estou muito acostumada com a força da água.
Naquele dia, pela primeira vez, tive medo dessa força.
Estava no primeiro banco e resolvi nadar até o segundo. O intervalo entre os dois é de uns vinte metros e a profundidade é de dois e meio. Já fiz isso várias vezes, sem nenhum problema. Fiz natação quando era pequena e nado direitinho. Mas, naquele dia, o mar tava forte demais.
A gente não pode subestimar o mar, minha filha. Tu podes ver que é muito mais fácil um surfista morrer afogado, que tá acostumado, do que uma pessoa comum. Porque o surfista acha que sabe mais do que sabe. Meu pai me diz mais ou menos isso seguido. Ele nadava bastante quando era mais novo. E tem uma relação muito forte com o mar... Pesca, até competia, e faz maquetes de barcos. Acho que foi dele que puxei esse gosto.
Em dias de inverno, lembro que eu e a Lara nos sentávamos na areia, no fim de tarde, olhando o mar. O silêncio durava bastante, mas não incomodava nenhuma de nós. O barulho das ondas quebra qualquer silêncio.
Naquele dia de janeiro, tentava ir de um banco para outro, com toda empáfia que me é capaz. Mas o mar tava forte, repuxava. Quando nadava dois metros, volta um e meio com a força da onda. E engolia muita água. Comecei a ficar com medo. Comecei a perder as forças nas pernas. E a força nos braços.
Precisei de ajuda pra sair.
Fico pensando como as coisas que parecem fáceis podem ser tornar difíceis de um minuto pro outro. Me senti assim, em Rio Grande, nesse fim-de-semana. Tão acostumada a ir embora. A entrar no ônibus e seguir adiante. Tão acostumada. Agora tenho um pouco de receio de partir, mesmo com um sorriso terno me esperando ansioso na rodoviária.
Tenho medo e não sei o porquê. Talvez seja a força das circunstâncias - me fazendo sair - contra a força do mar - me fazendo voltar.

2 comentários:

Anônimo disse...

Quando fui pra Bento, há menos de um mês, me bateu uma nostalgia incrível. Foi a primeira vez que fui pra lá sem os meus pais, e, nas poucas horas de descanso que tive na casa da Nona, fiquei a recordar as festas em família de quando eu era pequeno...Desta vez foi tão diferente: quase sem contato com a parentada; a 'trabalho'; sem tempo. Enfim...diferente.

Anônimo disse...

às vezes as situações comuns e rotineiras tornam-se mto complicadas mesmo...
Fly