sábado, dezembro 04, 2004

Obrigada, Brian De Palma

Mais uma história em ônibus. Acho que eu tenho andado demais de ônibus, mas antes de eu ganhar na Mega Sena e comprar uma Pajero pra mim, vá lá. Ônibus, sim! Eu que ature.
Não foi nas pobres linhas da EPTC, foi na costumeira viagem que nomeia este humilde blog. Estava eu, me dirigindo a Rio Grande, sentadinha, poltrona 33, quando o motorista colocou o filme. É, nos ônibus da Planalto sempre passam filmes.

Foi então que Brian De Palma protagonizou uma das cenas mais constrangedoras da minha vida. Talvez menos constrangedora do que a vez em que assistia àquela cena de sexo explícito da "A Última Ceia", com um namorado, no meu quarto, e meu pai adentrou a porta perguntando se eu tinha visto a tesoura dele. Entre os gemidos da Halle Berry, sendo quase obstruída pelo Billy Bob Thornton: "tá em cima da TV, pai". Horrível. Bom, seguindo a linha inicial... Eu já achei o motorista corajoso por pôr Brian De Palma, não é qualquer um que gosta de seu tipo de abordagem, digamos, agressiva. E também porque, normalmente, os motoristas colocam aqueles filmes mais no estilo "Sessão da Tarde".

Iniciou "Femme Fatale". O senhor sentado ao meu lado tentou disfarçar e fingir que não estava olhando quando duas mulheres lindas, eu admito, trocavam fluídos na telinha. E deu aquela pigarreada desconfortável e eu vi, juro que vi, pelo canto dos olhos, um sorriso malicioso nos lábios dele. Homens. Duas mulheres. Compreensível, até certo ponto. Duas mulheres se beijando, vá lá, não é uma cena tão horrível de se ver, como o meu pudor já diminuiu bastante nestes 21 anos, nem ruborizada fico mais. E antes eu ficava. Diga isso meu pai, que viu o pimentão que me tornei, momentaneamente, quando adentrou o quarto naquele fatídico dia. Eu podia ter pego uma comédia...

Sem desvios. Sem desvios. O filme continuou e eu dormi por uns 40 minutos. Pois é, mulheres se beijando definitivamente não são um atrativo pra mim. Mas quando eu acordei, estava o Antonio Banderas montado (desculpem a expressão, mas não achei uma melhor) na Rebecca Romijin-Stamos, e ela gritava, e as crianças se olhavam com risadas sutis que deixavam claro que estavam vendo o que não deviam, mas ninguém podia fazer nada. E as senhoras já queriam se levantar para xingar o motorista, por sua escolha inoportuna. "Mas é uma falta de educação!". "Gente do interior", eu pensei. "Imagina se ele tivesse posto Almodóvar. Imagina se fosse o Gael García Bernal gritando ali, e embaixo de um homem!"

Entre aquelas bocas e aquelas cenas de sexo puramente carnal e absolutamente desprovido de sentimento, entre aqueles gemidos que soavam de forma erótica, entre as poltronas de um ônibus, linha "Porto Alegre/Rio Grande", 16 horas. Todos desceram no paradouro meio silenciosos, a maioria dos rostos bem ruborizados. Eu meio risonha. Inspiração pro blog. Muito obrigada, Brian De Palma.

"Nothing is more desirable or more deadly than a woman with a secret"

5 comentários:

Raquel Hirai disse...

Pobre da minha amiga Thais... Pelo menos o velho não te agarrou... Credo.

Anônimo disse...

hahahahaha
que coisa guria...
situação cômica heim!
hahahaha
muito bom esse relato!
bye
Fe

luís felipe disse...

um filme desses no ônibus?

tu vê, a sociedade é menos conservadora que eu pensava.

Anônimo disse...

bah, muito bom! o pior é que cidade do interior é assim mesmo. todo mundo faz, mas ninguém fala.

Anônimo disse...

bah, muito bom! o pior é que cidade do interior é assim mesmo. todo mundo faz, mas ninguém fala.
Léo