terça-feira, outubro 05, 2004

Insensata

Eu não sei se a personalidade define o perfume, ou se o perfume define a personalidade. Só sei que existe uma relação muito direta entre esses dois. Ao menos pra mim.
Quando era pequena, com aquela mentalidade infantil (que delira com um “X” da Xuxa, mesmo que seja só no cantinho e aumente o preço em três vezes), bom, eu tinha um perfume roxo da Xuxa. E eu me achava uma adulta usando ele. Lembro que minha irmã tinha o rosa, e às vezes eu usava o dela escondido pra não gastar tanto o meu.
Cresci um pouco e comecei a usar Thaty. Primeiro, porque é meu apelido, e eu achava legal usar um perfume com o meu próprio nome, como se quem o descobriu estivesse pensando em mim. Um cheiro meu, com o meu nome. Segundo, porque as minhas amigas me diziam que o cheiro só ficava bem na minha pele. Naquele exagero habitual de amiga adolescente. Então eu jurava que o perfume só ficava bem em mim. E, além disso, ninguém ia cheirar mesmo. Quanta inocência perdida.
Primeiro beijo, primeiro namorado. A ingenuidade continuava. Continuava o Thaty.
Período de “ficação”, quando eu tive certeza de que era o máximo, só porque tinha gente na minha volta, querendo ficar comigo... Que bobinha. Ficar qualquer um fica, permanecer é que são elas. Continuava o Thaty, mas roubava o Vert da minha irmã mais velha quando ia sair. Tinha mais cheiro de mulher.
E ela chegou, a paixão fulminante, aquela que me fez cometer milhões de erros, me fez ir contra todos os meus princípios, todas as minhas certezas. Me fez crescer ao trancos e barrancos. E comecei a usar Ops azul. Erros, mais erros e um pouquinho mais de erros. E aquele cheiro me definia, em silêncio, com suas gotas no pescoço, pra torná-lo mais atraente. Quem sabe ele não vinha falar comigo? Eu não podia correr o risco dele chegar perto de mim e eu estar, assim, incompleta. Tadinha. Eu custei a deixar de usar o Ops e ainda guardo o frasco...
E veio a maturidade. Floratta in blue. Carente, um pouco tola – como todas as mulheres, desiludida, um tanto quanto infeliz. Uma fase perdida, meio insossa, sem qualquer graça, sem grandes emoções. Numa tentativa desesperada, na busca da minha identidade, decidi parar de usar perfume. Não mais seria dominada por cheiros, por aromas. Por nada. Pois é... Passei a usar um hidratante com cheiro de Chá Verde, bem gostosinho. Não senti tanta falta de perfume porque achava o cheiro tão bom, que não precisava de mais nada pra misturar. E quem eu queria que gostasse, gostava.
Mas deixou de gostar. Do perfume, de mim, dos dois, ou do contexto em geral. Continuei sem usar perfume e troquei de hidrante, por um de Camomila, bem bom, também. Eu acho, ao menos. Um pouco mais tranqüilo, pra uma fase de descobertas.
Eu mudei. Parei de crescer e comecei a me entender. Fui ficando mais segura, mais forte. Não queria mais um cheiro, e sim uma definição. Quis tentar ser mais doida, mais espontânea. Há alguns dias decidi, de súbito, voltar a usar perfume. Olhei nas minhas coisas, pra verificar se ia ter que comprar um, ou se podia aproveitar as minhas posses e não gastar meu escasso dinheiro. Foi, então, que escondido no armário, num frasco pequeno, eu achei um que se encaixa perfeitamente no que tenho precisado hoje. O nome? Insensatez.

6 comentários:

Anônimo disse...

nada melhor do que uma jornalista que sabe escrever como ninguém desses nossos mundinhos...
muito bom teu texto! ótimo teu texto...
e como eu já te disse , essas coisas tão iguais e tão diferentes são espetaculares!
ps: e sobre ´aquilo´ impressão tua querida, impressão...

luís felipe disse...

ah o Thaty...

Frau Bersch disse...

Nossa, acho que tenho q começar a cheirar mais as pessoas. que interessante isso...

Anônimo disse...

Eu estava usando o Insensatez também, mas parei faz uns dois meses.

Anônimo disse...

Eu estava usando o Insensatez também, mas parei faz uns dois meses.
by Pinky!

Anônimo disse...

Nessa: BAITA propaganda!!!
;)
Adorei a idéia do teu texto!